Adriane Reis Cruvinel - Tese

RESUMO: Após sua introdução no Brasil na safra 2001/2002, a ferrugem asiática da soja tem se apresentado como um dos maiores problemas na sojicultura nacional. Os prejuízos diretos pela queda da produção e os gastos com fungicidas têm acarretado prejuízos que vêm aumentando a cada safra. Objetivando compreender melhor a epidemiologia da doença, este estudo avaliou o progresso da epidemia em duas localidades, o efeito da época de semeadura, do ciclo da cultivar, do uso de fungicida e da resposta de diferentes cultivares à doença. Os experimentos foram instalados, nas Estações Experimentais da Agência Rural de Senador Canedo e de Anápolis. Para cada local foram utilizadas três épocas de semeadura, com seis cultivares, sendo Monsoy 6101 e BRSNina as precoces, Emgopa 315 e BRSGO Santa Cruz de ciclo médio, e Emgopa 313 e BRSGO Paraíso de ciclo tardio, com e sem a ação de fungicida. Em cada um dos locais, cada época foi considerada como um experimento com parcelas sub-sub-divididas. Após a observação dos sintomas da doença, as parcelas com controle químico foram pulverizadas a cada 21 dias com pyraclostrobin(133g/l)+epoxiconazole(50g/l) na dosagem 0,5 l p.c. ha^-1. As avaliações após o aparecimento da doença foram realizadas semanalmente até a queda completa das folhas. Com os dados de severidade periódicos calculou-se a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) e a área abaixo da curva de progresso da doença relativa (AACPDR), que consiste na divisão da área pelo período de duração da epidemia. As variáveis de rendimento obtidas foram: produtividade(Kg/ha), massa de mil grãos (MMG) e porcentagem de grãos chumbinho(%Ch). O atraso da entrada da doença em Anápolis, quando comparado a Senador Canedo, propiciou variações nos resultados que enriqueceram a discussão dos dados. A antecipação da ocorrência da doença em Senador Canedo e a alta pressão de inóculo apresentadas podem estar associadas ao fato da estação experimental em Senador Canedo possuir soja cultivada durante todo o ano. O atraso da entrada da doença em Anápolis, quando comparada a Senador Canedo, possibilitou um incremento na produtividade de 20%, na MMG de 17% e diminuiu em 13% a porcentagem de grãos chumbinho. Entre as épocas avaliadas nos dois locais, a segunda apresentou os maiores índices de severidade, mas também os maiores índices de produtividade, fator relacionado às condições do ambiente. O efeito da utilização do fungicida diminuiu em dez vezes a AACPD, aumentou 150% a produtividade, aumentou em 38% a MMG e diminuiu em quinze vezes a porcentagem de grãos chumbinho. Materiais de ciclo precoce apresentaram menor severidade da doença, seguidos pelos materiais de ciclo médio e tardio. O cv. Emgopa 315 apesar de ser de ciclo médio apresentou resultados semelhantes aos materiais de ciclo precoce nas avaliações como um todo. Em cada local as épocas se comportaram de forma diferenciada. Em condições de alta pressão de inóculo as diferenças entre as variáveis e os parâmetros estudados é menor. Para pressão de inóculo menor os parâmetros e variáveis avaliados expressaram melhor suas variações. Os resultados desta pesquisa permitem concluir que: a) quanto mais cedo a ferrugem aparece durante o ciclo da cultura, maior será o seu efeito na soja; b) a utilização de variedades de soja precoce propicia o menor número de ciclos do patógeno, que reduz os efeitos da ferrugem, quando comparado às variedades de ciclo médio e tardio; c) fatores diversos podem interferir no progresso da ferrugem, diminuindo o efeito escape da utilização de materiais de ciclo precoce e do plantio no início do período recomendado; d) a ocorrência da doença diminui o ciclo da cultura em dias, antecipado pela desfolha prematura; e) apesar de todos as cultivares apresentarem suscetibilidade à ferrugem, alguns materiais apresentam menores índices de severidade; f) a utilização do fungicida pyraclostrobin (133g/l) + epoxiconazole (50g/l) na dosagem de 0,5 l p.c. ha^-1, aplicado a partir do aparecimento dos primeiros sintomas e posteriormente a intervalos de 21 em 21 dias diminui expressivamente o progresso da doença e seus efeitos nos fatores de rendimento da soja; g) a redução do progresso da doença devido à aplicação do fungicida estudado é mais evidente em semeaduras tardias; h) sob alta pressão de inóculo as variações entre épocas de plantio no progresso da ferrugem e no rendimento da cultura são menos explícitas; i) a utilização da AACPDR é justificada para dados nos quais existe variação da duração do ciclo da soja, interferindo na duração da epidemia de ferrugem. Experimentos de comparação entre cultivares de ciclos diferentes que não fazem esta adequação têm resultados de progresso da doença comprometidos.