Mariana Pires de Campos TeIles - Dissertação


RESUMO: Os estudos relativos à organização da variabilidade ou estrutura genética em populações naturais de plantas têm permitido grandes avanços no conhecimento relativo aos processos microevolutivos. Mais recentemente, um grande esforço tem sido realizado no sentido do entendimento da organização genética das populações naturais de espécies vegetais tropicais. Dentre as diversas frutíferas nativas dos Cerrados que apresentam potencial de utilização em sistemas tradicionais de produção agrícola, a cagaiteira (Eugenia dysenterica DC.), da família Myrtaceae, merece destaque pelo seu potencial econômico. A fim de fornecer algumas informações relativas à dinâmica dos alelos nas populações desta espécie, foram estimados parâmetros genéticos, utilizando marcadores isoenzimáticos, de dez subpopulações locais de cagaiteira amostradas por 112 progênies, avaliados a partir de seis sistemas enzimáticos (SKDH, 6-PGD, a-EST, MDG, PGI e PGM), em um total de nove locos analisados. A caracterização da variabilidade e diversidade genética mostrou que 83% dos locos são polimórficos, com uma média de três alelos por loco. Na maior parte dos locos as freqüências observadas de heterozigotos foi menor que a esperada sob as proporções de equilíbrio de Hardy-Weinberg. O índice de fixação intrapopulacional foi de 0,337 e a taxa de fecundação cruzada estimada foi de 0,835, sugerindo um sistema reprodutivo misto para a espécie, com alogamia preferencial. O modo como a variabilidade genética está estruturada dentro de progênies, dentro de populações e entre populações foi caracterizado por uma análise de variância de freqüências alélicas e de uma análise de diversidade de Nei. Estas análises indicaram uma diferenciação relativamente alta entre as populações locais (op=0,154 e Gst=0,164), quando comparada com outras espécies tropicais. A divergência genética, avaliada por meio das distâncias genéticas de Nei mostrou-se estruturada no espaço por diferentes métodos, incluindo análise de agrupamento (UPGMA), ordenação por escalonamento multidimensional não-métrico e pela reconstrução filogenética utilizando um método de máxima verossimilhança assumindo evolução neutra. Uma análise explícita do padrão espacial foi realizada através de técnicas de autocorrelação espacial e teste de Mantel, mostrando que, de fato, a divergência genética está estruturada no espaço em um padrão clinal de variação das freqüências alélicas. Correlações matriciais, totais e parciais, realizadas entre matrizes de distância genética, distâncias geográficas, utilizando dados de solo e dos fenótipos (dados das árvores, progênies e frutos) também confirmam a grande influencia da distribuição geográfica na diferenciação genética entre essas populações locais. De um modo geral, todas as análises indicaram que um processo estocástico deve ser o responsável pela diferenciação genética dessas populações, havendo assim um balanço entre fluxo gênico a curtas distâncias e deriva genética dentro das populações locais, com o esperado para um modelo de isolamento-por-distância ou stepping-stone.