Robertha Augusta Vasconcelos Garcia - Dissertação


RESUMO: O feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.) é uma das culturas mais antigas do Novo Mundo, juntamente com o milho e a mandioca, sendo uma importante fonte de proteína na dieta humana, principalmente nos países da América Latina e África. O Brasil se destaca como maior produtor e consumidor da espécie, apesar da grande área de produção, os dados tem evidenciado a baixa produtividade brasileira. Esta leguminosa é vulnerável à ação dos agentes ambientais, seja de natureza biótica ou abiótica. Entre os agentes bióticos a alta incidência de doenças na cultura tem sido considerada um dos principais problemas responsáveis pela baixa produtividade no país, que além de diminuir o rendimento de grãos, podem depreciar sua qualidade. Entre as principais doenças fúngicas desta cultura destaca-se a mancha angular, cujo agente causal é o fungo Phaeoisariopsis griseola (Sacc.) Ferr.. Esta é uma enfermidade de ocorrência generalizada em todas as regiões produtoras de feijão. Esta moléstia é caracterizada por apresentar sintomas em toda parte aérea, principalmente em folhas e vagens. A cor característica das lesões é de acinzentada a marrom, sendo estas, delimitadas por vasos, assumindo uma forma angular, caracterizando o nome da doença Devido à crescente importância dessa doença, o constante monitoramento da variabilidade do patógeno é uma estratégia importante em programas de melhoramento que visam à resistência à mancha angular. Os objetivos deste trabalho foram: 1- Identificar novas fontes de resistência ao fungo P. griseola a partir de acessos de feijoeiro provenientes da Coleção Nuclear do Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT). 2- Analisar a estrutura fenotípica e molecular do fungo P. griseola com base na relação de virulência (conjunto de diferenciadoras) e marcadores RAPD. Os experimentos foram realizados na casa de vegetação e Laboratórios de Fitopatologia e Biotecnologia. Para identificação das fontes de resistência, utilizou 357 genótipos provenientes da Coleção Nuclear do CIAT sendo caracterizados em dois pools gênicos: Mesoamericano, composto por 281 acessos e Andino com 76 acessos, sendo inoculados com quatro patótipos de P. griseola (Sacc.) Ferr. de origem Mesoamericana (63-15, 63-39, 63-23 e 31-31). Na análise de variabilidade fenotípica e molecular os isolados de P. griseola foram obtidos a partir de folhas e vagens, provenientes das cultivares de feijoeiro FEB 209, FEB 200, FEB 170 e A 805. Esses cultivares foram escolhidos por apresentarem sintomas de mancha angular em condições de campo, sendo coletadas em maio de 2004, na área experimental da Fazenda Capivara, situada no município de Santo Antônio de Goiás (GO). O local selecionado foi devido à incidência recorrente da doença e a alta variabilidade de patótipos, que podem demonstrar a estrutura da população de P. griseola nas regiões produtoras do Estado. Em uma folha de feijoeiro de cada cultivar foram selecionadas quatro lesões. Destas, obteve-se três isolados diferentes por lesão totalizando 96 isolados. Na identificação das fontes de resistência e análise da variabilidade fenotípica utilizou-se 5 sementes/vaso. As primeiras folhas trifolioladas foram inoculadas após 15 dias do plantio, com uma concentração de 2 x 104 esporos.ml -¹. Os sintomas foram avaliados entre o 10º e 18º dias após a inoculação, determinando-se a percentagem de área foliar afetada pela doença com auxilio de uma escala diagramática, variando de 0 (ausência de sintomas) a 60%. Foram considerados resistentes os genótipos que apresentaram até 5% de área foliar afetada pela enfermidade. O critério adotado para a nomenclatura dos isoaldos foi proposto por Habgood (1970) e a caracterização molecular utilizou nove primers (OPA18 (AGGTGACCGT), OPD06 (ACCTGAACGG), OPD07 (TTGGCACGGG), OPE09 (CTTCACCCGA), OPJ10 (AAGCCCGAGG), OPK09 (CCCTACCGAC), OPL12 (GTGACAGGCT), OPL14 (AGCCTGAGCC) e OPL17 (CCCGTAGCAC) (Operon Technologies, Alameda, CA, USA).Dos 357 genótipos avaliados, 14 (3,93%) apresentaram resistência à todas as raças, 44 (12,36%) a três, 35 (9,83%) a dois, 70 (19,66%) a um e 193 (54,21%) a nenhuma das raças analisadas. A raça que apresentou maior patogenicidade foi a 31-31 com 17,09% das plantas que apresentaram resistência, seguida da 63-15 (18,49%), 63-39 (19,61%) e 63-23 (35,67%). Na análise de variabilidade os patótipos encontrados foram 63-55, 63-31, 63-63, 31-55, 63-47, 63-39 e 63-23, sendo a raça 63-63 a mais prevalente, encontrada em 40,6% dos isolados estudados. A alta variabilidade genética foi revelada pelos altos níveis de polimorfismo (61,40% de bandas polimórficas). O dendrograma gerou seis grupos diferentes, com a correlação cofenética de 0,9258. Os resultados evidenciaram que a criação de cultivares resistentes à mancha angular é um desafio para os melhoristas, devido variabilidade dos isolados. Neste trabalho, foi possível encontrar acessos que apresentaram reação de avirulência, aos quatro patótipos analisados, de maior ocorrência nas regiões produtoras. Embora, os genótipos, não apresentem adaptações às condições ambientais e/ou agronômicas, estes são caracterizados como fontes de variabilidade genética para os programas de melhoramento, com intuito de ampliar a base genética do feijoeiro comum. O Fungo, Phaeoisariopsis griseola apresentou uma ampla variação de patogenicidade encontrada entre os isolados, evidenciando uma possível coevolução patógeno-hospedeiro.