Jurema Fonseca Rattes - Tese


RESUMO: A soja [Glycine max (L) Merril] (Leguminosae), a mais importante das oleaginosas, é cultivada atualmente no Brasil em áreas de 13 milhões de hectares. Por ser cultivada em grandes extensões, disponibiliza alimento a muitos insetos que atacam esta cultura. Os sugadores de sementes da família Pentatomidae destacam-se como os mais nocivos à soja (PANIZZI & SLANSKY 1985), sendo os percevejos Euschistus heros (Fabricius), Nezara viridula (Linnaeus) e Piezodorus guildinii (Westwwood) os de maior importância. Dentre esses percevejos fitófàgos, a espécie E. heros que na década de 70 foi considerada como uma praga secundária, pela sua baixa ocorrência é atualmente o percevejo de maior abundância na cultura da soja, ocorrendo desde o Norte do Paraná até a Região Central do Brasil (CORRÊA-FEREIRA & PANIZZI 1999). Os pentatomideos representam um dos grupos mais importantes de insetos-pragas da cultura da soja, devido à sua alimentação direta nas vagens, causando danos irreversíveis ao desenvolvimento das sementes. Reduções significativas na produção e qualidade (vigor, viabilidade e potencial germinativo) de sementes causadas pelas diferentes espécies de percevejos são relatados (BLINCKENSTAFF & HUGGANS 1962, PANIXXI   et al. 1979, VILLAS BOAS et al. 1990, CORRÊA-FERREIRA & AZEVEDO 2002). Segundo a Asspcoation of Official Seed Analysts — AOSA (1979) citado por COPELAND & MCDONALD (2001), vigor de sementes pode ser definido como “aquela propriedade das sementes que determina o potencial para uma emergência rápida e uniforme e para o desenvolvimento de plântulas normais sob uma ampla faixa de condições de campo”. Viabilidade de sementes significa que esta é capaz de germinar e produzir uma plântula “normal”; neste sentido, uma dada semente pode se apresentar entre viável a não viável, dependendo da sua habilidade em germinar e produzir uma plântula normal. A viabilidade pode ser usada como sinônimo de potencial germinativo. Os percevejos são também, responsáveis por reduções no teor de óleo e aumento na porcentagem de proteínas e ácidos graxos livres (TODD et al. 1973). De acordo com MINER (1966), o conteúdo de óleo e proteína das sementes pode variar de uma área para outra, dentro de um mesmo campo e, entre vagens em diferentes alturas de inserção na planta. Junto com os danos diretos em sementes de soja, os percevejos são responsáveis pela transmissão de patógenos. A doença mancha de levedura, causada por Nematospora coryli Pegl., está normalmente associado com a atividade alimentar de pentatomideos (Daughty 1967). No Brasil ha relatos de transmissão da levedura em soja pelos percevejos N. viridula, E. heros e P. guildinii (CORSO et al. 1975, CORSO 1984). A retenção foliar é causa, na maioria dos casos, por desequilíbrio nutricional relacionado ao potássio (MASCARENHAS et al. 1988) ou percevejos. PANIZZI et al. (1979), VILLAS BOAS et al. (1990), SOSA-GOMEZ & MOSCARDI (1995) e BOETHEL et al. (2000), entre outros, relatam a associação de pentamotideos à retenção foliar. Em estudos conduzidos por SOSA-GOMIEZ & MOSCARDI (1995), P. guildinii foi à espécie que causou maior retenção foliar, seguido de N. viridula. E. heros não causou retenção foliar significativa em plantas de soja, quando estas foram comparadas com plantas sem infestação. Os percevejos colonizam as plantas de soja em diversos estádios de desenvolvimento, porém a capacidade de causar danos está limitada a sua alimentação, nas vagens e sementes durante os estádios de formação e desenvolvimento das vagens (PANIZZI et al. 1979, BOETHEL et al. 2000). Os insetos colonizam a soja no final do período vegetativo (Vn, segundo FEHR et al. 1971) ou durante a floração (R1 -R2). A partir do início de formação das vagens (R3) iniciasse a reprodução na soja e as populações aumentam, principalmente nas ninfas (chamado de período de alerta quando os campos devem ser vistoriados mais freqüentemente). No final do desenvolvimento das vagens (estádio R4) e início de enchimento de grãos (R5) ocorre o crescimento populacional, sendo esta a fase em que a soja é mais suscetível ao ataque (período crítico). A população atinge o pico máximo no final do enchimento de grãos (R6) e, começa a decrescer, com a soja atingindo a maturação fisiológica (R7) (CORREA-FERREIRA & PANIZZI 1999). A forma de controle mais utilizada para reduzir as populações desses percevejos ainda é através de aplicações de inseticidas. CORSO (1997) estima que sejam gastos de dois a quatro milhões de litros de inseticidas por safra, acarretando um custo médio de 30 milhões de dólares, além dos vários problemas ambientais. A partir da implantação do Manejo Integrado de Pragas da Soja (MIP-SOJA) no Brasil, na década de 70, novas estratégias foram adotadas e medidas alternativas de controle foram viabilizadas, como o controle biológico através do Baculovirus anticarsia e dos parasitoides de ovos e o uso de produtos seletivos. Estas medidas possibilitaram a atuação, com maior eficiência, do complexo de parasitóides, predadores e patógenos que contribuem naturalmente para reduzir as populações dos percevejos.