Cecília do Nascimento Peixoto - Tese


Resumo Foram estudadas características morfológicas e culturais de isolados de Gaeumannomyces graminis var. graminis provenientes de arroz e capins. O fungo se estabelece formando dois tipos de hifas: macrohifas, escuras, superficiais que se juntam lateralmente e formam cordões ou rizomorfas e microhifas, hialinas ou infecciosas, que penetram no hospedeiro. Forma também hifas em leque sobre as bainhas, a partir de macrohifas, que caracterizam o patógeno. Houve a formação de hifopódios lobados e pigmentados em bainhas, tanto em condições naturais como em inoculações. Observou-se peritécios contendo ascas e ascósporos, característicos do fungo, nas bainhas sobre as lesões em amostras coletadas no campo. Através de inoculação artificial, foram produzidos peritécios em bainhas de plantas, em bainhas destacadas e esterilizadas e em meio de cultura de batata-dextrose-ágar (BDA). Foram formadas hifas e hifopódios a partir de tubos germinativos dos ascósporos e as hifas crescidas em condições de estresse hídrico produziram clamidósporos, inicialmente hialinos e, posteriormente, de coloração escura. O micélio de Ggg, geralmente de aspecto aéreo fofo, é branco no início do crescimento, com variação de cor com a idade, do branco cinza ao marrom oliváceo e quase preto. Uma característica marcante é a aparência espiralada das macrohifas escuras nas bordas da colônia. Entre os isolados testados houve variação na quantidade de peritécios bem como na época de formação. Os testes de virulência realizados com vinte isolados provenientes de arroz e capins apresentaram diferenças em agressividade, tanto em plântulas quanto em plantas de arroz. Em geral, os isolados provenientes de arroz foram mais agressivos em arroz que os isolados de capins. O teste com quatro níveis de inóculo (0,5, 1,0, 2,0, e 4,0 g de inóculo por planta, multiplicado em grãos de sorgo autoclavados) e duas idades de plantas mostrou que as plantas inoculadas aos 60 dias após o plantio foram mais suscetíveis do que aquelas inoculadas aos 35 dias, requerendo menor nível de inóculo para a infecção. A patogenicidade de ascósporos de Ggg em plantas de arroz foi comprovada, bem como o papel dos ascósporos na disseminação do mal-do-pé do arroz. A incidência de mal-do-pé em lavouras de arroz de terras altas nas condições naturais de infecção variou de 68 a 100% de perfilhos infectados, entre seis lavouras avaliadas em fase avançada de maturação. Foi estudada também a patogenicidade dos vinte isolados de Ggg obtidos, provenientes de arroz e capins. Todos os isolados foram patogênicos a arroz e aos capins: capim arroz (Echinochloa crusgalli), capim avião (Pennisetum setosum), capim braquiária (Bachiaria sp.), capim digitaria (Digitaria horizontalis), capim marmelada (Brachiaria plantaginea), capim pé-de-galinha (Eleusine indica) e capim timbete (Cenchrus echinatus). Os cereais de inverno, trigo, aveia, centeio, cevada e triticale, bem como sorgo, milho, e milheto apresentaram diferentes graus de suscetibilidade ao isolado Ggg-a 01. As diferenças foram significativas quanto a sintomas típicos na base do colmo, altura de lesão escura na bainha, número de perfilhos ou plantas mortas, presença de micélio característico, hifas em leque e produção de hifopódios e
peritécios. Não foram observados peritécios em milheto, sorgo, timbete e milho e a maior suscetibilidade foi apresentada pelo trigo, com a morte de todas as plantas inoculadas. Foi testada a resistência de 58 genótipos de arroz de terras altas, utilizando o isolado Ggg-a 01 proveniente de arroz, em casa-de-vegetação. Entre os genótipos avaliados, SCIA16 e SCIA08 apresentaram altura de lesão significativamente menor, sendo considerados resistentes em relação ao genótipo CNAS10351, altamente suscetível. O progresso e disseminação do mal-do-pé do arroz foram estudados durante dois anos, em condições de campo em solo de cerrado. Utilizou-se delineamento experimental de blocos completos ao acaso e quatro repetições. Cada parcela foi constituída de dezenove linhas de sete e cinco metros, respectivamente no primeiro e segundo ano, com espaçamento de quarenta centímetros. Foi inoculada a linha central de cada parcela com isolado de Ggg para estabelecer os focos de disseminação da doença. O solo foi infestado com micélio em quatro níveis de inóculo (5,0, 10,0, 20,0 e 40,0 gramas de grãos de sorgo autoclavados e colonizados com micélio / 40 cm da linha) e perfilhos foram inoculados (4, 8, 16 e 32 perfilhos / 40 cm da linha) com pedaços de bainhas de arroz de dois centímetros de comprimento, contendo peritécios e micélio, inseridos entre o colmo e a bainha. Não houve efeito de níveis de inóculo na severidade da doença, tanto para micélio no solo quanto para peritécios na planta, nos dois anos de experimento. Entretanto, a área total sob a curva de progresso da doença na safra 2002/2003 foi significativamente menor nas plantas infectadas com peritécios, do que nas plantas infectadas através de infestação do solo com micélio. A avaliação de incidência da doença para análise do gradiente foi baseada nos perfilhos contados em 1,6 metros quadrados, compostos de cinco linhas de quarenta centímetros de cada lado da fonte de inóculo, na linha central. A análise de gradiente, conforme modelos de Gregory (1968) e Kiyosawa & Shiyomi (1972) mostrou existência de gradiente no primeiro ano, tanto para níveis de inóculo quanto para os focos provenientes dos dois tipos de inóculo. No segundo ano (2004/2005), não houve gradiente definido para os tratamentos testados. O progresso da doença não foi afetado pelos níveis, tanto na infecção do solo com micélio, quanto na planta com peritécios. Em teste de ajuste de modelo matemático para estudos epidemiológicos, o modelo monomolecular foi o mais apropriado para estudos de mal-do-pé do arroz nas condições de casa-de-vegetação e os modelos de Gompertz e monomolecular são os que melhor descrevem o progresso da doença, nas condições de campo.