Ananda Virgínia de Aguiar - Tese
RESUMO: O cerrado brasileiro foi um dos biomas mais devastados pelo homem, visando principalmente à introdução de grandes monoculturas (soja e milho). Poucas são as áreas que restaram com vegetação natural. Apesar de tão devastados, pouco se conhece sobre a diversidade de espécies que habitam essa vasta arca do território brasileiro (22%), e menos ainda sobre o potencial de utilização agrícola de algumas espécies, destacando-se, por exemplo, as espécies frutíferas. Apesar da grande importância econômica dessas espécies e da existência de leis de proteção (à fauna, à flora e ao uso do solo e da água), a exploração, especialmente das frutíferas nativas, é muitas vezes extensiva e predatória pela maioria dos agricultores. Além disso, o ecossistema cerrado tem sido agredido e depredado pela ação do fogo e dos tratores, colocando em risco de extinção várias espécies de plantas, entre elas algumas frutíferas nativas, muito pouco estudadas, ou nem mesmo classificadas pelos pesquisadores (Avidos & Ferreira, 2001). A partir desse cenário, a Universidade Federal de Goiás, em 1995, iniciou um programa de pesquisa com algumas frutíferas do cerrado. Nessas pesquisas vêm sendo enfocados aspectos genético-ecológicos e agronômicos. As espécies sob enfoque nesses estudos, até o momento, são: o pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.), a cagaiteira (Eugenia dysenterica DC.), o araticum (Annona crassiflora Mart.), a pêra-do-cerrado (Eugenia klotzchiana Berg.), a mangaba (Hancornia speciosa Gómez) e o caju-do-cerrado (Anacardium sp.) (Naves & Chaves, 2001). As espécies frutíferas ocupam um lugar de destaque no ecossistema do cerrado e seus frutos já são comercializados em feiras com grande aceitação popular. Tais frutos apresentam formas variadas, cores atrativas e sabores característicos, com elevados teores de açúcares, proteínas, vitaminas e sais minerais, podendo ser consumidos in natura ou na forma de sucos, licores, sorvetes, geléias, etc., sendo muito apreciados pelas populações locais. Constituem, ainda, uma importante fonte de alimentos para animais silvestres (pássaros, roedores, tatus, canídeos, etc.) e mesmo para o gado (Naves & Chaves, 2001; Avidos & Ferreira, 2001). Os animais silvestres funcionam como dispersores naturais de sementes, podendo-se admitir que o caráter natural e alimentício dos frutos resulta de um processo de co-evolução entre plantas e animais, por um longo período de tempo (Naves & Chaves, 2001). Uma ferramenta muito usada para quantificar a diversidade genética, bem como estudar a biologia reprodutiva das espécies, e que está resultando em um número razoável de estudos com espécies arbóreas, são as várias técnicas que utilizam marcadores moleculares, que vêm proporcionando uma resposta aproximada da diversidade genética entre as espécies, da variabilidade existente entre e dentro de populações, além de contribuir para o armazenamento de dados de um banco genômico da espécie que se deseja estudar. No melhoramento e na conservação a utilização dessas técnicas são eficaz para quantificação da diversidade genética de uma espécie. A diversidade genética e a estrutura genética de uma espécie pode ser alterada por diversos fatores ecológicos e evolutivos. Ultimamente, a fragmentação florestal é um dois principais fatores tem contribuído para modificar diversidade genética e a estrutura genética de uma espécie, e, consequentemente, modificar os padrões de dispersão de pólen e sementes (fluxo gênico) (Foré et al., 1992). Além de diminuir em número e tamanho as populações de espécies de plantas, tomando-as ainda mais vulneráveis as mudanças ambientais, a fragmentação pode ainda, dificultar a troca genética entre um conjunto de populações isoladas de uma espécie, empobrecendo cada população individualmente em suas áreas específicas (Bourlegat. 2003). Em locais, como no cerrado, onde ocorre um grande avanço da agricultura, o processo de fragmentação de populações naturais é visto com maior freqüência. O planejamento de formação de corredores ecológicos (corredores biológico ou corredores verdes) tem sido uma das propostas para reverter os processos negativos gerados pela fragmentação (Bourlegat, 2003). Dessa forma, a estimativas de parâmetros relacionados variação genética, tanto a partir de dados de marcadores moleculares como de teste de progênies e procedências, contribuem para monitorar as estratégia de amostragens, evitando perdas que possam levar a depressão por endogamia. Assim como os parâmetros que medem a variação genética, o tamanho efetivo populacional (Ne) é uma importante medida de representatividade pode ser aplicada na conservação genética e no melhoramento de plantas. A definição de estratégias adequadas visando a minimizar a redução da variabilidade genética de uma espécie são essenciais. O tamanho efetivo adequado é uma estratégia importante a ser aplicada no melhoramento a curto e longo prazos, bem como a conservação dos recursos genéticos ao longo de várias gerações, na tentativa de manutenção da diversidade dentro de espécies. Por ser uma medida de representatividade genética, o tamanho efetivo é crucial na determinação do número de indivíduos que uma amostra deve ter para evitar a perdas de variabilidade genética e manter as freqüências alélicas próximas da população de referência. Portanto, evitando o efeito da deriva e a endogamia, e consequentemente da fragmentação das populações naturais. Nesse trabalho pretende-se contribuir para o programa de conservação e domesticação de espécies frutíferas do cerrado, a partir do estudo e avaliação da diversidade genética de uma das espécies principais do cerrado, qual seja, Eugenia dysenterica. Isso permitirá direcionar e otimizar os processos de coleta de germoplasma, o que subsidiará projetos futuros de melhoramento e de conservação da sua variabilidade genética, garantindo utilização dessa espécie no futuro. Além disso, as informações geradas através desse trabalho auxiliarão na preservação de um dos principais recursos vegetais do Brasil, o cerrado. Nesse contexto o objetivo principal desse trabalho é caracterizar geneticamente, utilizando dados morfológicos a coleção de germoplasma in vivo de Eugenia dyventerica da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás. Relacionar a divergência genética dessas populações obtida a partir de marcadores moleculares com a variação genética quantitativa. Além disso, estimar e propor metodologia para estimar a representatividade de populações naturais que apresentam uma estruturação hierarquizada como as populações de cagaiteira. Desta forma, contribuir para o programa de conservação e domesticação dessa espécie, e a incorporação dessa espécie nos sistemas produtivos regionais. |